Pedra viking de 1200 anos pode ser alerta sobre crise climática

Em novo estudo, pesquisadores suecos dizem que inscrições na pedra rúnica de Rök mencionam alterações no clima e o receio de que o fenômeno se repetisse

21 de janeiro de 2020 4 minutos
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A pedra rúnica de Rök, entalhada por volta do ano 800 d.C., é um dos artefatos culturais mais importantes da Suécia. O significado de suas inscrições enigmáticas tem gerado debate há mais de um século, mas, em um estudo publicado neste início de 2020, pesquisadores de três universidades suecas acreditam ter desvendado sua mensagem: ela seria o registro de uma crise climática ocorrida no passado e o receio de que o fenômeno voltasse a se repetir.

Há certo consenso de que a pedra foi entalhada ou encomendada por um homem chamado Varinn para homenagear seu falecido filho, mas o significado exato do texto permaneceu incerto, já que, além de algumas partes terem se perdido, a peça contém diferentes formas de escrita. No entanto, a nova interpretação é de que Varinn queria ligar a morte e a pós-vida do filho a uma preocupação mais ampla relacionada com o clima.

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Esse era um temor coletivo e teria sido passado de uma geração a outra na era viking. No século VI, um inverno tremendamente rigoroso na Escandinávia teria diminuído a população na região pela metade, um evento que pode até ter influenciado a mitologia. Aquele teria sido o Fimbulwinter, um inverno longo e rigoroso que, segundo a mitologia nórdica, antecede o chamado Ragnarök, ou fim do mundo.

"As inscrições falam da ansiedade desencadeada pela morte de um filho e o medo de uma nova crise climática semelhante à catastrófe de 536 d.C.", escrevem os autores. A nova interpretação é baseada em colaborações de uma equipe interdisciplinar liderada por Per Holmberg, professor de sueco da Universidade de Gotemburgo. O grupo contou com pesquisadores de disciplinas como filologia, arqueologia e história da religião. 

Os autores do estudo também levaram em conta vários eventos durante a vida do autor do texto, que poderiam "parecer extremamente agourentos", como registra o jornal britânico The Guardian. "Uma poderosa tempestade solar coloriu o céu em tons dramáticos de vermelho, as colheitas sofreram com um verão extremamente frio e, mais tarde, um eclipse solar ocorreu logo após o amanhecer", disse Bo Gräslund, professor de arqueologia da Universidade de Uppsala.

Erguida há cerca de 1200 anos perto do lago Vättern, no sul da Suécia, a pedra Rök tem a inscrição rúnica mais longa do mundo, com mais de 700 runas cobrindo seus cinco lados. A rocha faz menção aos atos heróicos de "Teodorico", que alguns estudiosos acreditam ser Teodorico, o Grande, um governante dos Ostrogodos que viveu no século VI na região onde hoje fica a Itália. Algumas passagens sugerem que o texto se refere a batalhas ocorridas ao longo de 100 anos, mas, segundo a nova interpretação, as inscrições podem falar de um tipo diferente de batalha: "O conflito entre luz e escuridão, calor e frio, vida e morte".

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